Preciso fazer um pedido formal de desculpas. Eu sei que tenho passado um pouco sumido daqui. Não tenho respondido nem comentado em quase nenhum dos posts. Peço mil desculpas por tudo isso. Mas as últimas semanas foram um bocado intensas. Com o encontro da ANPUH-SC em Joinville (de 21 a 24 de agosto), a I Jornada do GEFEM (dias 29 e 30 de agosto) e minha banca de qualificação dia 31 de agosto foi quase impossível encontrar um tempinho para fazer uma postagem decente. Agora acredito que esses dias acabaram.

Durante a conferência de abertura da I Jornada do GEFEM, em que a professora Joana Maria Pedro contribuiu com uma elucidativa contribuição teórica e prática sobre gênero como categoria de análise, pude avançar em algumas reflexões.

Por isso trouxe a pergunta no título desse post: Poderia uma mulher medieval ser uma feminista? Teria como um conceito que ainda não existe hoje, mas que existirá daqui séculos, influenciar ou definir nossas práticas de agora? Acredito que a resposta obvia é não. Mas não devemos nos precipitar sem algumas reflexões.

Já vimos, em alguns posts atrás um pouco sobre a vida de Christine de Pizan parte 1 e parte 2. Vimos também muito superficialmente um pouco sobre uma de suas obras, no post "Por que não me fizeste nascer homem?". Desta vez, pretendo te mostrar um pouco das obras desta mulher através de suas iluminuras. Um dos mais belos manuscritos de Pizan que nos chegou foi o O livro da Rainha, que localiza-se na British Library - Harley MS 4431. Dividido em dois volumes, encontramos uma grande compilação das obras de Christine de Pizan, produzido com todo o cuidado para a a rainha do reino da França Isabeau de Bavière.

Pois bem, como observado nessa pequena amostra de iluminuras das obras de Christine de Pizan, percebemos uma forte atuação das mulheres. Isso se justificaria por sua atuação feminista? Não acredito ser este o caso. Contudo, sua escrita tem uma forte atuação no desenvolvimento de uma literatura que questiona intensamente as performances descritas por inúmeros homens desde a antiguidade clássica, até as primeiras décadas do século XV.

Sem dúvida, podemos observar algumas das deusas com forte atuação bélica, como nas iluminuras de Febe, de Minerva, das amazonas, ou de práticas de saber, como Pallas Athena e Diana, ou a Alegoria da temperança ajustando o tempo, ou por fim Ceres e Isis com suas práticas de plantio e colheita.

O que gostaria de demonstrar é que devemos ter cuidado ao atribuir conceitos contemporâneos ao analisarmos o passado. Isso não quer dizer que nunca possamos fazê-lo. Entretanto, quando o fizermos, precisamos estar cientes para que não seja praticado um anacronismo inconsciente.

No caso de Christine de Pizan e o feminismo, creio que no máximo podemos identificar fenômenos de um feminismo em desenvolvimento. Jamais atribuir, cegamente, o conceito sem que uma laboriosa análise crítica seja realizada.