No salão de Barbeiro em um sábado à tarde.
Balboa um espanhol de 80 anos, reclama indignado.
-Minha mulher comprou três caixinhas de cuecas pra mim...
-Se comprou é porque você está precisando. A observação foi do seu Genaro de 78 anos, o pensador da rua de baixo.
Balboa ignorou a observação.
-As merdas das cuecas ficaram pequenas...
-Tem sentido! Na sua idade o saco dobra de tamanho.
Balboa continuou a ignorar as observações do seu Genaro.
-Fui pessoalmente à loja pra trocar, mas se negaram a fazer a troca, pode uma coisa desta? Disseram que esse tipo de mercadoria “roupas intima” eles não trocam. Não importa se cueca ou calcinha. Acho isso preconceito e uma puta discriminação dos órgãos genitais. Penso que deveriam criar uma comissão no Senado “dos direitos dos órgãos genitais humanos”
Genaro se manifestou novamente.
-Deixa de ser burro Balboa, esse procedimento das lojas com relação às cuecas e calcinhas, nada te haver com preconceito e discriminação dos órgãos genitais.
Cheio de razão Balboa levantou da cadeira postou-se na frente do seu Genaro.
-Se eu não tenho razão, contra quem é essa discriminação e preconceito. Hein? Hein? Hein?
-O cú.
Na semana seguinte no mesmo salão de barbeiro sábado à tarde.
As mesmas figuras de sempre, alguns aguardando a vês para o corte de cabelo ou barba e, os demais só para jogar conversa fora, e eis que chega o seu Genaro, o pensador da rua de baixo, entrou cabisbaixo e chateado, lançou uma boa tarde inaudível a todos e sentou-se.
Todos os presentes se entreolharam, alguns balançavam a cabeça como a dizer: que bicho o mordeu?
Antes de alguém lançar a pergunta ao seu Genaro o afoito do Balboa se adiantou.
-O que houve velho? Parece que está chateado com algo, que bicho te mordeu?
-Se fosse algum bicho, estaria tudo bem comigo.
-É alguma coisa pior que isso?
-Bota pior nisso.
-Pois então conta logo homem, porque você está aborrecido.
-É que ontem à noite, por volta da meia noite, à veia estava com uma enxaqueca forte, o remédio tinha acabado e ela me implorou para ir a farmácia comprar, como vocês sabem de madrugada a única farmácia de plantão é a da rodoviária, aí já viu né, tive que tirar o carro da garagem e fui pra rodoviária comprar o bendito remédio.
Seu Romildo de 90 anos comentou.
-É neste horário sair de casa para comprar remédio não é fácil.
-Aí fui pra rodoviária, estacionei no pátio, subi até a farmácia comprei o remédio, e quando retornei para o carro, no momento em que estava abrindo a porta, uma piranha, das tantas que fazem ponto ali na rodoviária, estava encostada no carro ao lado, olhou para mim e falou.
-E aí Tio não tá afim de uma chupetinha por dez reais?
-Eu olhei para um lado, olhei para o outro, nenhuma viva ‘alma a não ser eu e ela ali no pátio do estacionamento, fiz um sinal de sim com a cabeça, entrei no carro e abri a porta do passageiro para ela entrar.
Neste momento todos os olhos estavam cravados no seu Genaro, que se apresentava a todos como o homem mais chateado do mundo.
Silêncio total no salão, todos conheciam bem o seu Genaro, o pensador da rua de baixo, ali tinha coisa, para complementar o causo do seu Genaro faltava à pergunta que ninguém queria fazer, mas o afoito do espanhol Balboa, não só fez a pergunta como defendeu com orgulho os idosos presentes no salão e para sua fala ficou de pé.
-Para com isso Genaro, ficar chateado por um simples pulo de cerca, qual é meu, somos avançados nas idades, mas não somos mortos ainda, que mal há num pulinho de cerca desses?
E ainda de pé Balboa correu o olhar pelas pessoas sentadas, como para sentir os efeitos de sua oratória.
Ignorando Balboa seu Genaro continuou.
-Dirigi o carro para atrás do estádio, o melhor local para o ato a ser realizado, quando ela terminou, simplesmente ela saiu do carro e falou até mais e começou a andar em direção à rodoviária, eu sai rápido do
carro e a chamei.
-Espera aí que eu vou te pagar pelo serviço.
E sem parar, ela respondeu.
-Vô, para mascar chicletes eu não cobro nada...
Roberto Afhonso
Enviado por Roberto Afhonso em 15/08/2013
Reeditado em 21/05/2018
Código do texto: T4436264
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Foto de Leio McLaren no UnsplashMuhammad Wahyu Nur Pratama