A fragilidade das instituições, do Estado e do Direito
Há algumas semanas, lá na faculdade, eu vi uma palestra cujo tema era "o parlamentarismo no Brasil", valia nota e presença, então não tive muita escolha. Chegando lá, o formato da palestra seria o seguinte: Um professor falaria a favor do parlamentarismo e outro falaria contra.
Resumindo as duas falas: Ninguém tinha certeza de nada e nem de qual era a melhor opção para o país. Fui embora da palestra da mesma forma que entrei: Também não sabendo qual era a melhor opção para o país. Cheguei à sala para a aula do segundo horário e fiquei bem pensativo, até que tive a ideia para esse post. Por coincidência, a aula era de Direito Constitucional e o assunto da aula era a atuação do Estado na economia.
A aula começou com a seguinte frase: "Quando uma sociedade tem uma economia totalmente liberal, as empresas formam elas mesmas as regras que constituem o mercado, produzindo cada vez mais e explorando cada vez mais o trabalhador, remunerando-o mal. Como é o próprio trabalhador que representa o mercado de consumo e não possuí poder aquisitivo para comprar os produtos produzidos, ocorre uma crise de super produção, uma "crise do liberalismo", como, por exemplo, a crise de 1929. Para tanto, a partir de tais crises, surge uma nova doutrina de intervencionismo estatal."
Eu sei, parece uma piada (lembram do post sobre meu professor de economia que defendia a inflação como algo positivo?), mas foi exatamente assim que a aula começou, fazendo com que eu a aproveitasse então para bolar este post, e a primeira coisa que me veio à mente foi aquilo que eles chamam de "pirâmide de Kelsen", uma das primeiras coisas que aprendemos numa faculdade de Direito. Para quem não conhece, é uma ilustração das ideias do pensador austríaco Hans Kelsen, que nos ensina que o ordenamento jurídico de um país possuí uma hierarquia bem definida com repartições de competência e abrangência, e no topo dessa hierarquia está a Constituição, fonta máxima do Direito e a qual todas as outras normas devem se submeter.
Pois então, imaginemos o Estado brasileiro na sua composição atual. Temos as estruturas do judiciário, executivo e legislativo espalhadas pelos estados, municípios e União. Toda essa organização obedece normas que balizam sua atividade, sendo tais regramentos que criam tais instituições, inclusive. Se não bastasse isso, temos, como fundamento da legislação, uma base doutrinária e filosófica que racionaliza a ideia de Estado e busca as melhores formas de fazê-lo funcionar.
E o que tudo isso tem a ver com as palestras que assisti? Pois então, vendo as palestras e levando toda a estrutura que mencionamos acima, surge a pergunta: Porque raios não chegamos a um consenso sobre como fazer nosso governo funcionar? A resposta é que não há resposta. Não importa quantas palestras façamos e nem quantas tentativas ou constituições promulguemos, não chegaremos a um consenso e sequer a uma organização ideal de Estado.
Isso ocorre porque toda a base na qual nosso sistema é construído é frágil, as instituições são regidas por regras, mas tais regras são executadas por pessoas, e pessoas são falhas. Podemos ter bibliotecas cheias de livros de filosofia, sociologia, Direito e história, assim como uma legislação com milhares de artigos feitos pelos juristas mais consagrados do país, o fato é que se não tivermos pessoas plenamente dispostas a cumprir tais regramentos e "fazer o que é certo", nada disso vai importar, o sistema continuará fracassando.
Ai esta a justificativa do título deste post. A fragilidade das instituições, do Estado e do Direito esta naquilo que fundamentalmente os constituem: as pessoas. Instituições são formadas pelas pessoas que nelas trabalham, o Estado é formado pelas pessoas que trabalham nas instituições que o formam e o Direito tem, por mais científico, racional e bem elaborado que possa ser, sua materialização e sua presença e interferência ativa na vida das pessoas dependente da boa vontade e da índole dos seres humanos falhos que integram o corpo faminto do Estado.
Perceber a fragilidade do nosso sistema de organização social é também perceber a fragilidade humana individual. É por tal motivo que eu sempre reforço, nos posts, que por mais livres que desejemos ser (e devamos ser), nós, seres humanos, precisamos de um senso de comunidade e solidariedade. A descentralização da economia, tema tão recorrente por aqui, não se trata apenas de liberdade econômica, pois ela sozinha de nada adianta. Mesmo o país mais livre, cujos cidadãos menos sofrem com a interferência do Estado falho, tiver, em sua essência, uma economia centralizada e uma população individualista, sofrerá gravíssimos problemas.
A melhor forma de fechar a torneira da fragilidade, mesmo que não completamente, é adquirir a consciência de que uma comunidade saudável beneficia não só os outros, como também aquele que contribui para ela. Numa sociedade descentralizada isso significa reciprocidade, empatia e solidariedade, nela essa realidade pode ser alcançada com mais facilidade, pois se cria uma noção não só de comunidade como também de confiança entre os integrantes, coisa que tanto falta em nossa sociedade centralizada.
Para fechar esse longo post, sugiro que pensem nessa ideia, fazer parte de uma sociedade significa que para receber algo, deve-se também dar algo.
Parabéns, seu post foi selecionado para o BraZine! Obrigado pela contribuição!
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Boa reflexão, @thomasmmaker! Enquanto o nosso sistema político criar uma nova classe de cidadãos, com muito mais privilégios, tanto faz o nome que se dê, só irá beneficiar este grupo e quem os financia. Na prática, o que funciona mesmo é o cooperativismo, onde um grupo trabalha para benefício de todos que participam e constroem sua comunidade. Mais um vez, bom ler teus textos por aqui, obrigado por compartilhar ;)
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Fico feliz que tenha gostado, @casagrande ! É bom publicar textos de novo, ando com várias ideias! Sobre o que você disse, concordo plenamente, veja que na Revolução Francesa, por exemplo, tínhamos Igualdade, Liberdade e Fraternidade, tanto falamos sobre os dois primeiros que o último, igualmente importante, ficou esquecido!
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Excelente texto! Concordo quando vc diz que estamos sustentados em uma base frágil, de nada adianta pensarmos em políticas economicas enquanto não houver uma boa reforma política.
Nossas instituiçoes são baseadas na Teoria dos três poderes de Montesquieu, onde um poder deveria "fiscalizar" os outros, mas no Brasil não dá certo na prática, basta ver as negociações entre eles nas últimas décadas.
A esperança que tenho, é por sermos uma república nova ainda, talvez em um futuro consigamos estabelecer uma forma de "atualizar" os três poderes e se eles funcionarem como devem, aí sim podemos pensar em economia ou até em outro sistema.
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Eu sou muito cético nessa questão de sistemas de governo, não acredito no sistema republicano presidencialista. Eu não toco nesse tipo de assunto em posts, mas costumo, em conversas ao vivo, questionar meus colegas se talvez não seria melhor, em termos de evolução histórica e cultural, o Brasil adotar um sistema diferente, parlamentarista, por exemplo, seja republicano ou monárquico. Eu entendo que é um tanto utópico, mas é uma discussão interessante que pode muito bem gerar ideias e propostas interessantes, se tivermos uma mente aberta!
Quanto à separação de poderes, acredito, analisando historicamente, que teve seu berço na Grécia Antiga, obviamente diferente do sistema atual, e que eles tinham alguns elementos de organização muito simples e que servem de exemplo para nós. No Império Romano, no entanto, vemos que eles se basearam muito no sistema grego, mas, com o passar do tempo, nota-se uma corrupção gradual do sistema em prol de um grupo social privilegiado, e que esses elementos corruptos que foram inseridos permanecem até hoje. É uma questão interessante de se analisar também.
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Penso que no Brasil já vivemos sob um sistema pseudoparlamentarista, basta prestar atenção, qual dos três poderes possui maior influência? O Legislativo é o poder que possui em mãos os outros poderes, vejamos a atual reforma da previdência, o Executivo terá que vender a "alma" para conseguir aprovar esse projeto, o Judiciário idem, pois a qualquer momento o Legislativo é capaz de cortar seus benefícios..
Esse é justamente o problema, não temos os poderes se vigiando e se fiscalizando, apenas trabalhando em conluio, desta forma, pode-se implantar qualquer tipo de sistema que não dará certo.
A solução, não sei qual seria, por isso sempre tento debater estes assuntos para quem sabe, a sociedade consiga chegar a um consenso.
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woosh
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