Jogar tudo pro alto me convém, estar acima da razão só porque somos jovens...
Muitas pessoas em épocas e culturas distintas já detiveram grande poder de influenciar outras pessoas.
Nem tantas, apesar do poder de persuasão, de fato mudaram o mundo.
Por mudar o mundo, me refiro a ações ou pensamentos com poder de marcar um ponto na história capaz de alterar o curso de um número altamente expressivo de vidas, positivamente ou não.
Vamos desde um Indivíduo cuja existência marca os calendários da maioria dos povos entre antes e depois de sua expressão ao mundo até o que tentou pateticamente separar a sociedade entre raças e foi capaz de estar no centro de uma guerra mundial e um holocausto.
Para o bem ou para o mal, alguns indivíduos de fato marcam sua presença na história.
Não tenho a pretensão de definir uma receita de sucesso dos indivíduos que mudaram os rumos da história positivamente, na verdade, sequer acredito que exista uma receita e por isso mesmo tento nesse texto trazer uma reflexão que tenho me esforçado para fazer constantemente...
Será que por vezes tenho tentado mudar o mundo inteiro, esquecendo de mudar o meu mundo ?
Será que tenho tentado mudar uma sociedade complexa, cheia de particularidades, com divergências constantes de ideias e pensamentos, choque de culturas, tudo isso em escala global, sem antes deixar em ordem o menor perímetro possível sob minha responsabilidade, meu quarto, meu lar, meu ambiente de trabalho ?
Sendo jovens, em idade biológica ou emocional e mental, com todo o vigor e disposição, não raro, queremos mesmo mudar o mundo conforme nossas próprias convicções e isso além de ser praticamente impossível, por vezes nos traz mais conflitos infrutíferos do que bons resultados.
Mais de uma vez foi exatamente o que eu já fiz.
Confesso que assim como muitas outras pessoas tenho firmes convicções, das quais formei diante de análises e estudos dos pormenores envolvidos, obtendo informações que possam dar um sólido respaldo a tais convicções.
Aliás, acredito que convicção mesmo se caracteriza justamente pelo escrutínio e pesquisa que nos deixa suficientemente confortáveis para defender uma determinada causa, conceito ou estilo de vida. Convicções sérias no entanto, devem passar pela etapa de testes, validação, e testar uma convicção, consiste em buscar no próprio conceito ou causa defendida os possíveis pontos fracos e que abrem espaço para objeções.
Isso significa fazer um auto questionamento quanto as nossas próprias convicções, considerar argumentos contrários de forma sincera, colocar em uma balança com parâmetros objetivos os diferentes pontos de vista apresentados.
Isso pode ocorrer em várias áreas das nossas vidas, em questões emocionais e sentimentais, questões profissionais, ideológicas ou espirituais. Se não fizermos o auto exame de convicções por nós mesmos, é bem possível que as circunstâncias nos obriguem a fazer de maneira mais dolorosa, afinal, nosso plano de mudar o mundo com nossas convicções pode cair junto com nossas ideias como um castelo de cartas a qualquer momento.
Não é fácil, geralmente envolve cortar raízes com conceitos antigos e ineficientes ou admitir enganos que duraram anos, mas é libertador e isso pode mudar o mundo, talvez não o mundo inteiro, mas o nosso mundo, o mundo das coisas e pessoas que são importantes para nós, o mundo dos ideais sinceros, espontâneos e reais, dos conceitos que nos motivam e não daqueles empurrados a força por terceiros... ou até por nós mesmos.
Mas... E se tudo isso trouxer mais confusão e dúvida quanto ao nosso propósito ou identidade ?
Essa chance não apenas é real como também provável, afinal, pode se tratar de um recomeço que envolve nossas áreas intelectuais, emocionais, profissionais como pode ser também o ponto de maior maturidade onde vamos apenas seguir em frente com mais vigor e com nossas convicções testadas e aprovadas.
A vida flui nessa loucura e o momento é decisivo mas agora estou confuso demais, não me pergunte o que eu quero da vida, o que eu quero da vida, eu tenho sede demais...
Bem, diante disso é importante ter com quem contar, é importante saber quem está ao nosso lado e quem não está, quem pode nos apoiar, auxiliar a seguir em frente e quem no momento não está disponível.
Quanto as pessoas que não parecem estar andando junto conosco ou dispostas a nos ajudar, penso que não deve haver ressentimento ou mágoa, elas talvez tenham seus próprios mundos para mudar e também estejam trabalhando nessa árdua tarefa e é bem provável que em momentos de dúvida e conflitos pessoais, não sejamos também as pessoas mais agradáveis do mundo.
Então, foco em parcerias que você consiga identificar uma vontade real de fazer com que você seja quem nasceu pra ser, em quem enxerga em você mais que um número ou mera estatística, mais do que um mero recurso humano.Se o ponto de dúvida e indecisão é o que vivemos atualmente, acredito ser importante também não esperar que as pessoas certas ao nosso lado resolvam nossos problemas, elas não podem mudar o nosso mundo, estão ali para serem colunas, auxiliares de ouro, pessoas especiais cujos nomes estarão nos créditos do final feliz, presentes entregues a nós, mas não farão nada que precise ser feito apenas por nós mesmos, parece evidente, óbvio, mas as decisões mais difíceis estão reservadas somente aos protagonistas.
Por fim, é importante levar em consideração ainda que o simples fato de estarmos fazendo um auto exame já nos coloca em uma posição interessante, diferente de quem ainda não se confrontou com essas questões e vive de ilusão em ilusão, potencialmente somos pessoas que querem entender o próprio mundo, que entendem a importância da liberdade mental, pessoas que entendem as próprias fraquezas e desejam ser melhores para quem está perto e caso a missão "mudar o mundo" não seja delegada a nós, certamente já estaremos convocados para a missão de "fazer a diferença" para um mundo melhor.
Citação inserida no texto: trechos da música Tudo pro Alto - Charlie Brown Jr.