Mais uma matéria com a equipe do PENSA, o Escritório de Big Data da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Publicado em: 13/10/2013 11:55
Fonte: O Globo
Usando dados do twitter e da prefeitura, grupo busca soluções para problemas relacionados a dengue, transporte e enchentes
Projeto Pensa tem seis servidores que navegam pelos 400 terabytes de dados da prefeitura
RIO - Em 2009, quando empossado pela terceira vez na Prefeitura de Nova York, o empresário Michael Bloomberg anunciou a criação do que veio a apelidar, carinhosamente, de Esquadra Nerd (Geek Squad, em inglês). O grupo, majoritariamente jovem e liderado pelo advogado Michael Flower, passou a se debruçar sobre o acumulo mastodôntico de informação gerada, diariamente, pela capital econômica americana. Números de todo tipo — ocorrências policias, alarmes de incêndio, vítimas de ataque cardíaco, notas de alunos do sistema público — passaram a ser compilados, cruzados e analisados para ver, se deles, surgiam evidências de problemas e soluções para os oito milhões de habitantes da cidade. A partir de então, a prefeitura de Nova York formulou estratégias para diminuir os custos de manutenção do sistema de esgoto e para prevenir, de forma mais eficaz, desastres naturais, como o furacão Sandy.
No começo deste ano, o administrador Paulo Pellon, presidente da Fundação João Goulart — braço de treinamento dos funcionários da Prefeitura do Rio — viajou a Nova York, para um encontro com Flower. A ideia partira do secretário municipal da Casa Civil, Pedro Paulo Carvalho, que resolvera fazer, aqui, um esquadrão semelhante ao americano. Passada uma semana com o Geek Squad, Pellon retornou dos Estados Unidos com a missão de encontrar seis pessoas — de dentro e fora do serviço público — capazes de navegar pelos 400 terabytes de dados da prefeitura. Surgiu daí o projeto Pensa. Em agosto, finda a escalação entre os 150 interessados, Pellon voltou a exercer integralmente a presidência da Fundação João Goulart.
— Minha missão era montar o time — diz. — Agora que está pronto, eu saio.
A esquadra carioca — formado por um professor de Matemática, um geógrafo, um gestor de políticas públicas e dois engenheiros — trabalha numa pequena sala no segundo andar do Centro de Operações Rio, na Cidade Nova. É regida pelo advogado Pablo Cerdeira, de 34 anos, ex-subsecretário de Defesa do Consumidor, que responde diretamente à secretaria da Casa Civil.
— Aqui tem mais dados que na Prefeitura de Nova York — diz Cerdeira. — São um milhão de anotações de sensores por dia. Podemos analisar esses dados para ajudar a vida das pessoas.
Em geral, cada integrante ganha entre R$ 5 mil e R$ 7 mil para gerenciar um projeto e colaborar, com seus conhecimentos específicos, nos demais. Desde maio, quando os primeiros desembarcaram, o Pensa já levantou números sobre casos de dengue, locomoção urbana e locais de alagamento na cidade. Usou dados do Twitter, das secretarias, da Guarda Municipal, da CET-Rio, do cadastro do IPTU e do 1746 (serviço de atendimento ao cidadão da prefeitura). Por sugestão de Pedro Paulo, começou mapeando os bairros com o maior índice de queda de árvores.
— Os garotos começaram a trabalhar duas semanas depois de uma ventania. Pedi que cruzassem o histórico de queda de árvores com queda de energia — conta o secretário. — Queria saber quais eram os bairros em que mais caíam, em dados percentuais.
Resultado: Catumbi, Catete, Vidigal e Santa Tereza, nesta ordem.
— Pode ser que nesses bairros a poda seja mais precária — sugere. — Vamos dar um banho de loja neles.
O grupo também mapeou — a partir de dados gerados por torres de telefonia celular — a movimentação das pessoas, na cidade, no último 31 de dezembro. Descobriu que, da Zona Norte, os moradores do Andaraí e da Tijuca são os que mais participam da virada do ano na Praia de Copacabana.
— São dados genéricos, tirados de um projeto acadêmico de pesquisa. Não identificam ninguém — explica o engenheiro Pedro Bittencourt, de 26 anos, que gerencia o projeto. — As empresas guardam esses dados por três meses. Depois, viram lixo.
Pedro Paulo complementa:
— Dá para cruzar isso com o cadastro do Rio Ônibus, para saber quais linhas estão obsoletas. Podemos dar uma frota maior para o Andaraí e a Tijuca no réveillon deste ano, e diminuir de outros locais.
Os dois outros projetos em andamento dizem respeito a casos de enchente e dengue. Com as enchentes, a ideia é usar pluviômetros — aparelhos que medem o risco de deslizamento no alto de comunidades — para saber que ruas da cidade podem vir a alagar, e desviar o trânsito antes que a hecatombe aconteça.
O projeto é encabeçado pelo engenheiro Marcelo Granja, de 29 anos, que prestava consultoria na área de Estatística em São Paulo, antes de ser pinçado para o projeto.
— Ganho o equivalente ao que eu ganhava prestando consultoria — diz. — Mas a dinâmica de trabalho aqui é muito mais criativa. Tem um mundo de coisas acontecendo na prefeitura.
Já com a dengue, o foco é mapear bairros afetados, cruzando dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com palavras postadas no Twitter.
— Pegamos os exames de sangue enviados à Fiocruz e comparamos com o número de vezes que a palavra “dengue” aparecia no Twitter. A curva foi praticamente igual — diz Pedro Paulo. — A diferença é que o exame de sangue demora sete dias para ficar pronto, enquanto no Twitter podemos saber na mesma hora a latitude e longitude de onde a mensagem foi postada.
A partir disso, pretende-se mapear e prevenir, em tempo real, os maiores focos de dengue da cidade. O desejo é que, já no verão, o projeto seja colocado em prática.
Há, por fim, uma última linha de pesquisa, ainda embrionária. Mais velho do grupo, o professor de Matemática Sérgio Bastos, de 52 anos, tem levantado 34 variáveis de 21 bairros, para garimpar futuros problemas.
— Estou analisando o histórico de 600 câmeras da CET-Rio para ver quais falham mais. Vou cruzar com dados de pluviômetros, velocidade nas vias, frotas da prefeitura, nível dos rios, por aí em diante — conta.
Pedro Paulo diz que a ideia é achar “soluções fora da caixa”.
— A prefeitura é compartimentada — diz. — Cada secretaria só se preocupa com o seu universo, e não consegue cruzar os dados. Queremos tentar algo diferente do que já foi pensado.
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