A potencial volta dos Kirchner ao poder na Argentina não é nem um pouco surpreendente, mas é uma pílula amarga de engolir para quem colocou fé nas promessas liberalizantes de Mauricio Macri. Mas sejamos realistas: Macri não representou mudança nenhuma na principal fraqueza da economia argentina há décadas, que é a sua política monetária inflacionária. Carlos Menem, que governou de 1990 a 1998 foi a única exceção numa tradição argentina centenária e quase tão arraigada como o tango, que é a inflação anual de dois dígitos pra cima.
As poucas e tímidas reformas do Macri não atacaram a raíz do problema, logo a sua derrota é compreensível, apesar da maioria das decisões políticas serem mais viscerais do que racionais e não podemos esperar que o povo argentino tenha votado após uma longa reflexão sobre microeconomia, oferta monetária e expansão de crédito. E não é que o povo argentino seja ignorante ou esteja desesperado por assistência social. Pelo contrário, é um dos mais educados, empreendedores e desenvolvidos do continente e, diante da escolha entre inflação de dois dígitos com austeridade e inflação de dois dígitos sem austeridade, obviamente preferiu a segunda.
O intervencionismo populista continuará ditando a regra na política argentina, mas nem tudo são espinhos. De mentes argentinas também vem soluções criativas e libertadoras que tem um futuro promissor: a primeira criptomoeda baseada no princípio do crédito mútuo, que oferece uma alternativa ao dinheiro estatal-bancário livre de juros, inflação e especulação[1], que é fruto do trabalho dos senhores Mario Cafiero, Sebastián Valdecantos e Eduardo Murúa; e a primeira plataforma de arbitragem privada e descentralizada de contratos inteligentes, implementação do conceito de crowdjury[2] desenvolvido pelo empreendedor Federico Ast. Se estamos falando de futuro, em vez de passado, são estas as pessoas que estão moldando o futuro (não só) dos argentinos.
Leituras Recomendadas:
[1] Valdecantos, Sebastián. Moneda PAR: Un sistema monetario al servicio de la producción y el trabajo
[2] Dispute Revolution - The Kleros Handbook of Decentralized Justice.
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