Acho sempre um tanto complicado comentar sobre obras que
buscam se relacionar exclusivamente com um determinado grupo, principalmente se
eu não fizer parte dele. É o que faz Pets
– A Vida Secreta dos Bichos 2, da Illumination,
o Estúdio que criou (e não cansa de lembrar) os Minions. O foco da obra são crianças e nada mais. Então como
avaliar a obra já que a narrativa oferece elementos tão direcionados e
padronizados?
Irei começar pelo básico: a primeira coisa que chama a atenção é a qualidade do design. Pets 2 cria uma realidade agradável, carregada de brilho, límpida, brilhosa e preenchida por cores fortes e vibrantes. Além disso, seus personagens, principalmente os cachorros, são adoráveis com seus olhos grandes e expressivos, contornos cartunescos, personalidades cômicas inerentes e uso constante de humor físico – além do histriônico, como o fofíssimo e histriônico coelhinho Bola de Neve (Kevin Hart). Tudo isso numa combinação simples (e rasa) para “prender” a atenção do público jovem, que, imagino, conseguirá se entreter com esses elementos na tela.
Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2 é bonito na superfície e problemático abaixo dela
Outro aspecto – que acredito ser o mais fundamental nesse tipo de filme – é a mensagem, já que ela vai além do visual e se comunica também através de detalhes nas entrelinhas dos elementos. Em sua superfície infantil e colorida, Pets 2 trás algumas mensagens positivas. A primeira delas é quanto à crueldade animal, através de uma subtrama envolvendo o uso de um tigre branco num circo e o seu adestrador exclusivamente malvado (falarei sobre isso adiante). Outra mensagem é sobre o medo e seu enfrentamento em outra subtrama, que também é assunto para daqui a pouco. E ainda há mais uma: a dona de Max (voz de Patton Oswalt, que substitui Louis C.K.) conhece um cara e tem um filho. Apesar do ciúme inicial, Max gosta tanto do garoto que acaba superprotegendo-o, ou seja, ele precisa aprender com esse excesso.
Apesar da grande quantidade de subtrama, Pets 2 elabora uma jornada simples, explicando cada mensagem de maneira direta, sem qualquer grau de complexidade – o que, pessoalmente, acho uma forma de menosprezar a inteligência das crianças. A montagem consegue dar fluidez aos arcos que, no fim, se unem para valorizar o aprendizado de Max. Mas, como disse antes, há detalhes nas entrelinhas disso, que se comunicam através de símbolos equivocados e, eu diria, ruins.
Um dos que mais me incomodou foi a mensagem quanto ao medo cuja a forma é questionável, ainda que seja válida na essência. Como pai, ela entra em conflito com a maneira como tento ensinar as coisas para meu filho. Numa determinada situação, Max precisa resgatar uma pequena ovelha que fugiu e subiu numa árvore nas paredes de um precipício. Galo (Harrison Ford) aconselha Max a fingir que o medo não existe. Bem, eu discordo (eu disse que é pessoal). Deve-se entender o medo, aceitá-lo e, então, agir. Essa ideia de fingir que algo não existe me sugere uma fuga (um tanto burra já que ele sentiu medo, então por que não entendê-lo em toda sua complexidade?). Mas a pior é quanto ao adestrador do circo.
Na superfície, a mensagem diz algo que apoio incondicionalmente: a crueldade animal é abominável (eu não disse que era profundo). Mas na forma, o que ela significa? Sergei (Nick Kroll), o adestrador malvado, é russo, bem como o nome já indicava. Quando ele foi apresentado, me perguntei: qual o motivo dele ser russo? No primeiro filme, Pets – A Vida Secreta dos Bichos, havia um contexto de glamorização e ode à Nova Iorque. Na continuação essa proposta retorna, embora menos constante. A sequência de abertura faz essa declaração à cidade através de uma narração em off redundante, que comenta exatamente o que está sendo mostrado, noutra forma de menosprezo à inteligência do público. O mesmo acontece na conclusão. A forma como a direção de Chris Renaud e Jonathan del Val (co-diretor) recria e apresenta a cidade fortalece o tom de homenagem. Então, pensando nessas decisões pontuais, por que o adestrador precisa ser russo e maniqueistamente malvado? Qual mensagem isso passa além de uma vilanização arbitrária? Não passa de um reforço datado de uma imagem caricata e nociva que parece buscar se sobressair não pelos méritos próprios, mas em detrimento do outro. Parece uma provocação vazia e arbitrária, uma rivalidade unilateral entre os países.
Enquanto animação (bem) infantil, acho que Pets – A Vida Secreta dos Bichos 2 tem recursos suficientes para prender a atenção do público (quanto mais novo, mais eficiente). Mas como mensagem, não é o tipo de filme que mostraria orgulhoso para meu filho. É claro que não o proibiria de ver, mas depois iria me dispor a mostrar (tal como já faço com Meu Malvado Favorito 2, por exemplo, que ele adora. Minions...) como há muito além do valor visual e que por trás das cores vibrantes e a cidade perfeita, nem tudo é tão bonito ou valoroso quanto parece ser.
Data de estreia: 27 de junho
Título Original: The Secret Life of Pets 2
Gênero: Animação, Comédia, Aventura
Duração: 1h26
Classificação: Livre
País: França, Japão, Estados Unidos
Direção: Chris Renaud, Jonathan del Val
Roteiro: Brian Lynch
Edição: Tiffany Hillkurtz
Música: Alexandre Desplat
Elenco: Patton Oswalt, Kevin Hart, Harrison Ford, Eric Stonestreet, Jenny Slate, Tiffany Haddish, Lake Bell, Dana Carvey, Bobby Moynihan, Hannibal Buress, Ellie Kemper, Nick Kroll
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