O dia que eu perdi meu Rim [Relato Pessoal #2]

in pt •  7 years ago 

Dando continuidade a ideia de contar um pouco de mim, da minha história e experiências ao longo da vida, onde no primeiro que fiz, usei meu exemplo com o mercado financeiro, como comecei, como eu me quebrei e como eu estou tentando me reerguer...

Hoje como é sábado, a maioria do povo some no Steemit e também estamos vivendo uma semana de baixa nas moedas e com tudo isso deve dar uma sumida maior do povo, farei um post mais "suave", apenas para contar um momento da minha vida.

Muitos amigos e pessoas até bem próximas não sabem que eu só tenho um rim. Mas, não é algo que eu precise sair por aí falando, uma vez ou outra quando da certo em determinados assunto eu acabo "informando". E não só eu, como muitas outras pessoas e talvez até aqui no Steemit depois dessa publicação elas apareçam, que vivem só com um rim. Porém, vou contar como eu perdi o meu =D

Há muito tempo atrás, em uma galáxia muito distante, eu endividado, resolvi vender um rim para o mercado negro... Zueira né gente hahaha, como eu iria viver em outra galáxia?


Fonte da Imagem

Na verdade, era véspera de Carnaval, ano de 2002, eu na época com 11 anos. Meu primo de Curitiba (já casado e com filhos) tinham vindo nos visitar. Foi um dia muito agitado para mim, já que eu brinquei demais com meus priminhos de segundo grau. Nesse tempo eu dormia em um beliche, e eu nunca até então havia caído da cama alguma vez todo esse tempo. Mas quis a vida dizer ao contrário naquele dia.

Eu dormia na parte de cima e meu irmão menor de 4 anos dormia na cama de baixo. O beliche não tinha grade, mas a escada para subir para cama fazia uma certa proteção, pois ela formava uma espécie de grade no local onde ficava, e era bem alta depois da altura do colchão com os cantos arredondados. Acontece que minha mãe, colocava uma cadeira de madeira do lado do meu irmão com o medo que talvez ele fosse cair da cama... Naquele dia, eu ainda me lembro bem o sonho que eu tive no momento da queda. Sim, eu caí dormindo do beliche pela primeira vez na vida, caindo de uma cama, e na queda, eu caí de uma maneira que bati a parte lateral do corpo por cima da cadeira de madeira... E eu só acordei quando eu estava em cima da cama novamente, tirando minha camisa por causa de um calor terrível que eu sentia na hora. Em seguida a dor era terrível e tudo isso era próximo das duas da manhã... Logo minha mãe apareceu no quarto para saber o que tinha acontecido, e eu não tinha muita ideia... Colocamos o colchão no chão e eu deitei nele mas não conseguia mais dormir, a dor da queda onde acertou era demais, mas ninguém imaginava que desde então eu corria risco de morte...


Fonte da Imagem

Pois é meus amigos, eu quase fui dessa para outra com meus 11 anos por algo tão bobo. A vida tem dessas de nos pregar as mais impensáveis maneiras de nos levar.

Continuando a história, eu só consegui voltar a dormir próximo de amanhecer o dia, quando bem cedo, levantei com muita dificuldade para ir ao banheiro urinar, veio a minha segunda surpresa... Eu urinava TOTALMENTE SANGUE. Eu um menino de 11 anos, não sei como não entrei em pânico (deve ser por outras coisas que já tinham me acontecido e falo isso em outro post se alguém quiser saber), chamei minha mãe e contei o ocorrido. Nesse momento a agitação em casa para me levar ao médico.

Era feriado, então fomos ao médico de plantão pelo SUS que nossa cidade tinha. A médica que me atendeu, que até hoje eu não gosto dela, apenas me deixou internado por observação com compressa de água quente... Durante o dia fui melhorando da dor e até caminhando melhor, era como se eu apenas tivesse tido uma batida forte... Somente no outro dia, por pressão de conhecidos e família que fui fazer exames e foi onde constataram que eu estava com o rim PARTIDO. Sim, o rim se partiu (trincou, rachou como diziam) na queda, e eu poderia ter uma hemorragia a qualquer momento. É claro que eu só fui saber disso depois haha, eu só sei que eu fui fazer o exame e quando voltei para o hospital já estavam me mandando trocar de roupa avisando que eu iria ser transferido (hospital da cidade aqui é pequeno e uma bosta) para Curitiba. Na mesma hora me colocaram em um carro da prefeitura e passaram lá em casa, onde meu pai já me esperava para ir comigo. (Eu apesar de 11 anos, não era nenhum bobo, sabia que se meu pai já estava me esperando em casa em horário que seria de serviço dele, é porque a coisa era séria).

Lembro do trajeto até Curitiba, cada buraco ou defeito da estrada onde o carro passava, aquilo me doía na alma... Mas, fora isso eu estava bem e consciente, apenas tentando entender tudo. Chegando lá, já me separam do meu pai e fui adentrando hospital que cada vez era mais enorme o quanto mais me levava para dentro com uma cadeira de rodas (naquele momento achei que era demais, porque eu podia andar), depois de ser deixado inteiramente nu e com o jaleco do hospital e me tirarem 4x sangue, me levaram mais a dentro (isso para mim era tudo novo, ninguém me contava o que iria acontecer, meus pais não estavam perto, porém eu sempre calmo...) quando me dei conta eu tava em uma ala que logo eu reconheci, era a UTI. Tudo isso já era Quarta Feira a noite.

No outro dia bem de manhã, me levaram fazer aqueles exames dentro daquelas máquinas que não sei o nome, e quando eu voltava de maca pelos corredores do imenso hospital, vi minha mãe falando com alguns funcionários, como se estivesse pedindo informação (ela não me viu), logo fiquei a imaginar, como tudo isso tinha acontecido a chegar nesse ponto.

No final de quinta feira, próximo das 17h, uma porta quase do meu lado da cama na UTI se abre (e eu nem sabia que tinha uma porta ali desde então) um monte de equipe médica chega, me coloca em outra maca e me leva pela porta que abriram, quando eu chego na sala e vejo o teto com aquelas luzes típicas de cirurgia, foi aí que pensei... É meu amigo, FUI PARA A FACA haha.

Não lembro a hora que acordei, mas a sensação da volta da anestesia geral foi recobrando os sentidos um de cada vez... Depois de algumas horas fui informado pelo médico que eles tiraram meu rim. Na sexta feria eu já era levado para caminhar pelos corredores do hospital, porém ainda tudo torto por causa das dores do corte agora... No sábado fui transferido para enfermaria (a gente não tinha plano e nem dinheiro para pagar algo particular), e por incrível, no domingo ao meio dia eu já saía do hospital de alta. Passei uma semana ainda em Curitiba na casa da minha tia até tirar os pontos e poder voltar para casa...

Parecia uma festa ou velório hahaha, pela quantidade de gente, vizinhos e familiares que me esperavam em casa...

Desde então, dos meus 11 anos (hoje com quase 29) vivo com somente um rim.

E essa foi a minha história de como um dia eu perdi meu rim.

Se alguém leu até aqui, tudo. Você é foda e eu te admiro hahaha. Grande abraço e fique com Deus. Porque em certos momentos da nossa vida, só ele para nos ajudar e guiar.

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Sou foda então hahahah
Imagino o pânico da sua mãe e do seu pai nessa situação.
Que bom que o fim deu tudo certo e cê tá aí pra me cobrar chocolate hahahaha
Ótimo fim de semana meu bem

O que eles passaram eu nem consigo imaginar direito, eu pequeno, não achava que eu estava tão mal... Mas eles já sabiam de tudo =x

Poxa, você falou que seria um post "suave", mas fiquei tenso do início ao fim imaginando a situação pela qual passou! Hahuahaua
Mas não leve a mal, isso é uma coisa boa. O texto ficou excelente! E a história então, ela é realmente daquelas que te prendem para ler e saber o que vai acontecer.

Obrigado por ter lido tudo amigo ;)

Confesso que pensei em escrever de uma maneira que fosse prender a leitura hehe ^^

Essa é a tua definição de post "suave", amigo? Haha! Se bem que com 11 anos, né? Não tinha como saber dimensão da pancada.

Pior que a coisa ficou meio "soft" mesmo pela maneira como você escreveu (que por sinal, conseguiu manter o ar de suspense até o final).

Pergunta pessoal: Você já sentiu alguma dificuldade por viver apenas com um rim?

Hauhauahaua, é que achei que contar história apenas, não seria nada pesado xD

Nunca senti nenhum tipo de dificuldade, sempre normal :)
Claro que, eu preciso me cuidar mais, já que agora só tenho um ^^