RE: Um Compromisso com o Infinito - Parte 2

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Um Compromisso com o Infinito - Parte 2

in pt •  6 years ago 

Um Compromisso com o Infinito - Parte 2 do B

O que Marcus não sabia, sequer desconfiava, era que a intenção de Emiliano correspondia à do próprio Espírito. Não que fosse Emiliano mais que um homem comum, mas nele havia cicatrizes que um homem comum jamais perceberia. De fato, tudo que nele de humanidade restara, reduzira-se a um resquício da saudade do que ele fora um dia. Em Marcus, Emiliano vira a si mesmo, ou melhor, uma sombra do que teria sido, não fosse a própria ironia um dos sopros do Espírito a lembrar-lhe que sempre haverá uma surpresa a demolir a convicção mais firme.

Há dessas gentes por aí: Marcus que se encontra, sem desconfiar, com uma sombra futura. Um enlace de destinos, um comando universal do qual não se pode fugir, enfim, mil formas têm as circunvoluções da intencionalidade espiritual. Muito pensara Emiliano acerca desse enlace. Se constatara a inevitabilidade desse trabalho, assim designara a situação que lhe fora posta a frente, é porque ainda residia em seu âmago algo a ser conduzido e tratado pelo lado de fora, sob a suspeita permanente do lado de dentro. Marcus fora posto diante dele para lhe ensinar algo valioso de que ambos necessitavam.

Emiliano acompanharia Marcus em sua jornada, porque em Marcus estaria o tratamento de que necessitava: ironia, pensou, quando por fim decidira por aceitar a própria sorte. A imagem do centauro, curandeiro magistral incapaz de curar a si mesmo, viera-lhe à mente. Sou um centauro de carga, referira-se a si mesmo naquele tempo presente que nascera passado.

Mil noites ponderou Emiliano sobre os caprichos do Espírito. Mil estrelas contemplou imaginando-se filamento dessa tessitura de dobras iluminadas que curvam espaços e tempos na vasta e inapreensível geometria do Infinito. Por certo, Marcus não fora o único. Tantos outros atravessaram seu caminho, cada qual com sua ferida a ser tratada, de modo que cumprira sua tarefa de dar alívio a quem dele precisava. Porém, tantas foram as vezes que o Espírito lhe soprara mil eventos de incompreensível vinculação à realidade maior da consciência, que aceitara ser o que lhe fora destinado, ainda que para isso devesse simplesmente agir sem saber por quê. Confiava. E isso era tudo.

Houve, no entanto, um momento fugaz em que pressentiu a presença de um sentido naquilo que fazia. Como se, por gracejo do Espírito, a ele fora confiada breve espiada no plano maior: Marcus haveria de lhe revelar uma chave. Marcus haveria de lhe conduzir a um desvio necessário em sua jornada rumo ao Infinito.

No plano maior, vira a si mesmo mirando-se diante de um espelho: de seus olhos fluíam filamentos verdes-alaranjados em uma fina cascata de luz suavemente entrelaçada, formando no chão uma poça de luz viva. E nela, a imagem de uma criança sussurrando uma palavra de origem desconhecida: "ashminiah…"

Diante dessa lembrança, Emiliano ponderou desesperançado sobre o sentido que poderia haver nisso tudo. Ironia, pensou, considerando as sutilezas da manifestação do Espírito. E sorriu, acolhendo dentro de si todo o mistério do mundo.

Mas, de repente, destravou-se um sentimento súbito. Aquela criança, convencera-se, era Marcus, mas não o jovem que ele encontrara. Marcus, era um outro ele mesmo, alguém de cuja sombra ele mesmo fora um dia. Ashminiah, repetiu, ao respirar o entendimento puro: somos seres multidimensionais atemporais.

Eis a mensagem que o espaço diz a todo tempo: "eu sou um outro você".

Continua… (do B)

Atenção: este post poderá ser editado a qualquer momento, alterando completamente o rumo da história paralela que não se prende ao tempo ou ao espaço, não se sujeitando, pois, às leis da causalidade.

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Rapaz, que viagem! Estas tuas palavras estão fazendo aflorar em mim diversas lembranças-premonições desta história, ainda não contada mas já gravada na eternidade. Creio que este turbilhão de sonhar silencioso poderá aos poucos vir a ser traduzido em novos capítulos...